Ele e ela - numa noite de chuva.

Ela entrou pela porta a correr, quase como que um furacão.

- Está a chover. Estou ensopada!

Esgueirou-se pelo hall até à sala, deixando-o para trás a fechar a porta. Ele caminhou devagar seguindo as pequenas gotas de chuva que haviam caído pelo seu corpo molhado. Olhou-a profundamente, enquanto ela tentava sacudir e secar o cabelo em vão. Conseguia distinguir a sua silhueta não perfeita, mas bela o suficiente para o deixar sem ar. Parou assim como que de repente, como que de um baque.

- O teu cheiro suave torna-se forte com a chuva...

- O quê?

- O teu perfume nota-se mais quando chove.

- Pára lá com isso!

Pegou na mala para tentar encontrar o espelho no meio da confusão. E ele olhava-a. Sempre olhando-a, cada vez mais a mirá-la, a observá-la. Cada movimento, por mais básico que fosse, lhe parecia uma bela dança ensaiada. Ela tinha música no corpo. Cada toque, uma nota. E ele olhava-a. Sabia de cor todas as maneiras de ela se mexer, todas as feições da sua cara. Sabia exactamente como é que ela se sentava - aquela mania de se atirar com força para cima do sofá -, como ela andava - o som dos seus saltos desconfortáveis -, como ela se deitava - de barriga para cima, para poder reparar em tudo à sua volta. Tudo nela ele tinha decorado.

Dirigiu-se a ela e abraçou-a por detrás. Sentia-lhe o corpo molhado junto ao seu, mas ao mesmo tempo tão quente que fazia despertar alguma que outra sensação de pequena loucura - pequena! Passou as suas mãos ao de leve pelo pescoço húmido da sua amada e beijou-a levemente.

- O que estás a fazer? Estou toda molhada...

- Sssh... - sussurrou.

Só se ouvia a chuva batendo contra os vidros. Encostados um ao outro, de olhos fechados, saboreando cada segundo que passava, cada movimento de respiração, cada bater do coração, cada, cada, cada... Só eles ali. Só eles e a confidente da chuva. Ah se a chuva falasse! E eles ali, enroscados num abraço que não acabava nunca.

- Quero-te.

- Agora?

- E sempre...

Yuuh